fevereiro 02, 2005

CONTOS MINÚSCULOS

Lili, cabo de aço que une um Continente a uma Ilha

Ela havia juntado algum dinheiro e planeava fazer a viagem da sua vida. O desafio era este: viajar durante trinta dias a bordo do cruzeiro Equinócio, navegando de oceano em oceano, pulando de mar para mar, sem nunca parar em nenhum canto de mundo, pois como é sabido, o mundo não tem cantos.

Mas nesse mesmo dia chegou à caixa de correio de Lili um panfleto promocional da agência de viagens O Ultimato e dizia o seguinte: viaje por apenas cinquenta e cinco escudos, da Ponta de Sagres até à ilha da Madeira, numa bicicleta sem pneus com direito a pensão completa, caso lá consiga chegar.

Não sendo impossível a viagem, a proposta intrigou Lili. Bicicleta sem pneus! Sentia-se agora dividida, incomodada por esta proposta surrealista estar a rivalizar com a viagem que sempre sonhara.

Abriu a janela do quarto e durante o resto do dia aguardou que a noite chegasse. Quando os candeeiros da rua se acenderam, foi como se um clique, a resposta decisiva, se acendesse dentro dela. O telefone tocou mas Lili não quis atender. No entanto, depois da voz que Lili tem gravada no atendedor, a mensagem que surgiu foi: vai Lili... vai... vai...

2 Comments:

Blogger Unknown said...

Pois é, só viajam de ânimo leve os turístas e estes não são verdadeiros viajantes.
vê só:
Fernando Pessoa viajava dentro do seu próprio quarto, para Pavese era, simplesmente, “uma brutalidade”. Para Kerouac era alienação pura.

belo texto.

1:39 da manhã  
Blogger cc said...

contos MAIÚSCULOS
vai knuque vai
(uma curiosidade: knuque tem explicação?)

6:17 da tarde  

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