fevereiro 27, 2005

FESTA DO SENHOR DAS NAUS

Narrador 1
Juro que não quis ofender o senhor Lavaccara, nem da primeira nem da segunda vez, como andam a dizer na aldeia. O senhor Lavaccara pôs-se a falar-me de um porco e queria convencer-me de que era um animal inteligente.

Narrador 2
Eu então perguntei-lhe: Desculpe, o porco é magro?

Narrador 1
E eis que o senhor Lavaccara olha para mim como se a pergunta tivesse a intenção de ofender, não o animal de que era proprietário, mas a si próprio.

Narrador 2
Respondeu-me: Magro? Pesa mais de um quintal!

Narrador 1
E eu então disse-lhe: Desculpe, julga que é inteligente?

Narrador 2
Estávamos a falar do porco.

Narrador 1
Mas o senhor Lavaccara, com toda aquela rósea fartura de carnes tremulantes, julgou que eu depois de ofender o porco o quisesse ofender a ele, como se tivesse dito que a gordura exclui a inteligência.

Narrador 2
Mas, repito, era do porco que estávamos a falar.

Narrador 1
Não tinha pois nada o senhor Lavaccara que fazer uma cara tão feia nem que perguntar-me:

Narrador 2
Então eu, na sua opinião?...

Narrador 1
Apressei-me a responder-lhe: Mas o que é que o senhor tem a ver com isto, caro senhor Lavaccara? O senhor é porventura um porco?

Narrador 2
Desculpe. Quando o senhor come com esse belo apetite, que Deus o conserve até ao fim da vida, para quem come? Come para si, não engorda para os outros. Um porco pelo contrário julga que come para ele e está mas é a engordar para os outros.


(versão dramatizada)
Luigi Pirandello
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