abril 02, 2005

CONTOS MINÚSCULOS 3

“Aquela voz... Aquela voz...!?”

Um dos maiores barítonos do mundo, de seu nome Rui Baetá, só canta se tiver debaixo dos pés areia de uma praia portuguesa. Em miúdo sempre que andava por casa, descalço, brincava aos legos, traquinava, comia bananas, não se interessava por cantar, mas logo que se ouvia uma voz doce e suave sabia-se que o Rui estava na praia junto ao mar. Após ganhar sucesso e notoriedade o seu staff na véspera do concerto recolhia areia numa praia perto do local do evento. Uma vez teve um problema gravíssimo na Ilha da Madeira e o espectáculo esteve mesmo para não se realizar. O produtor queria que se fizesse o concerto, com ou sem areia, estava-se a marimbar. E o Rui achava que aquela areia vulcânica servia na perfeição. Mas alguém do governo regional achava que aquela areia iria de certeza desvirtuar as capacidades vocais do cantor. Até que se conseguiu um acordo memorável. Vieram quinhentos quilos de areia do continente aos quais se misturou cem da ilha. A areia ficou com uma cor muito gira. O Rui acabou por fazer dois ou três castelos. O concerto é que acabou por não ser grande coisa.

3 Comments:

Blogger AW said...

que estranho ....
;-)
ps: tb gostava de só trabalhar alapada num sofá italiano

9:45 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

não terá sido areia da ponte de entre os rios?

8:25 da tarde  
Blogger JM said...

Este teu conto minúsculo lembra-me o Tonino Guerra, as suas histórias de Igrejas Abandonadas, as suas memórias de infância.

Belíssimo.

Obrigado.

2:44 da tarde  

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