outubro 23, 2005

Nunca me deixes

Tenho um casal amigo de quem gosto muito e eles gostam muito um do outro.

Convidaram-me para jantar lá em casa, fui, o jantar estava óptimo.

Eram duas da manhã, até ali a conversa tinha sido morna, trivialidades, arte e política, mas apesar disso bem regada por três garrafas de vinho tinto.

Já estávamos no whiskey quando dispara o tema da intimidade e do amor.

Ele e ela começam pouco a pouco a discutir, a elevar voz tentando cada um impor a sua ideia.

Eu estava demasiado torpe agarrado ao copo, desperto por aquela exaltação, mas sem vontade de intervir.

De repente, estavam aos gritos, ela sai da sala, esperei o pior, regressa com um livro na mão e começa-lhe a bater, a bater, a bater com o livro, a bater, ele não reagia, eu dizia-lhe "pára com isso, estás a magoá-lo, não sejas tonta!".

E pimba, com o livro qual moca despejou a fúria no corpo do rapaz que nunca se defendeu nem protegeu, pura e simplesmente deixou-se aleijar.

Ela saiu dali desaustinada e fechou-se no quarto.

Ele olhou para mim e disse "desculpa!".


Levantei-me para ir embora e dirigi-me ao sofá para pegar no meu casaco, e lá estava ele, o livro.


A capa alaranjada, o autor Kazuo Ishiguro, o título Nunca me deixes.

14 Comments:

Blogger Cantareu said...

Olha se era com a lista telefónica... ou com o dicionário... ou com o albúm de fotografias do casamento, sei lá.

"Bai lá Bai"

6:07 da tarde  
Blogger Agripina Roxo said...

fantastico :)
a vida tem destas ironias :)
se ela nao gostasse tanto dele e nao o quisesse para sempre, nunca lhe teria batido tanto :)
o amor tem destas coisas e ele nunca a deixou :)

10:54 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O Talento da Mediocridade é pena ser só mediocridade.

2:24 da manhã  
Blogger polegar said...

desculpa, mas não imaginas a gargalhada que larguei...
delicioso...

11:43 da manhã  
Blogger Cantareu said...

Parece que anda por aqui um "anonimus" a precisar de umas "pauladas"! Anda anda!

12:43 da tarde  
Blogger Carla de Elsinore said...

o comentário anónimo é só pena ser anónimo

3:12 da tarde  
Blogger Unknown said...

é caso para dizer:
"quanto mais me bates, mais eu gosto de ti"
ou pelo contrário
"quanto mais te bato mais tu gostas de mim"
ou ainda
"Viver todos os dias cansa"
ou
"o amor é um gajo estranho"
e porque não
"entre marido e mulher ninguém meta a colher"
ou...

iiiii

gosto muito destas estórias do amor...

1:17 da manhã  
Blogger Nuno Vieira said...

que história triste...

2:33 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

E foi um jantar agradavel!
Sempre achei isso do nunca me deixes uma treta...

10:14 da tarde  
Blogger Abelhinha said...

O Amor também é um sentimento que tem que aprender a exprimir. Quando não se sabe acontecem destas coisas... batemos quando queremos beijar, gritamos quando queremos abraçar.

A ela gostaria de dizer: "Se achas que ele não tem razão convence-o com um beijo!"

10:19 da tarde  
Blogger mr pavement said...

gostei.

cumprimentos ao talento.

4:15 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

eu, que levei a porrada, não tenho talento da mediocridade.

1:34 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

muy muy interessante este post.

8:20 da tarde  
Blogger Sofia Bragança Buchholz said...

(sorriso...)

2:06 da manhã  

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