maio 12, 2006

Doce catadura poética

Enquanto nesta pensão, que é o mundo, estiverem os quartos todos alugados, não há maneira de se sentir a crise. Pensemos nesta nossa casa e na sua doce catadura poética.

O quarto 3 aluguei-o à Primavera, a preço de amigo. Ela é discreta, não ronca, não baba, deixa sempre a porta entreaberta. Não toma o pequeno almoço na cama.

No quarto 7 está um irreverente, às vezes intempestivo, homenzarrão, é o V.. Ele é roupa espalhada pelo chão, latas de cerveja debaixo da cama, portas e janelas sempre abertas, é uma alegria.

No outro dia vi-os de mãos dadas. Nem sei em que quarto dormiram porque acabei por ter de fazer as duas camas. Vejam a conversa entre os dois que gravei no gravadorzinho:

V
Estava capaz de uma devassa (Ela ri.) eu colérico acutilo largo!
P
Calor de misógino não sinto... (Ele pisca-lhe o olho.) estava capaz de olhar melhor para os meus proventos!

Nesse momento, afastei-me porque senti que a Primavera se ajoelhou para apanhar qualquer coisa que deixou cair e eu não queria ser apanhada em contrapé. Mas tenho aqui a prova de que durante um par de noites andaram os dois juntos e não havia maneira de os calar.

1 Comments:

Blogger francisco carvalho said...

Nem sei como ainda ninguém comentou aqui que este texto é genial...
:D

12:30 da manhã  

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