O PARQUE DA CIDADE
Quando passo muito tempo a trabalhar no mesmo sítio, encafuado num certo escuro, ancorado numa cenografia insignificante, iluminado por uma luz que há-de ser sempre artificial, tenho um momento, em que paro, desligo de tudo e imagino o parque da cidade.
Independentemente da cidade em que esteja a trabalhar imagino o parque dessa cidade.
Já estou a ver os patos no lago, as gaivotas e pombas no ar, daqui até lá ao fundo uma erva fininha, mesmo fofa para sentar, de ladeiro uma fiada de arbustos maneirinhos, contemplação pura, aqui e ali uma escultura de pedra solta, a coisa mais linda de se ver.
Entreabro uma janela de imaginação e atolambado observo o céu.
Sinto o cheiro da terra fresca revolvida e os passarinhos cantam de uma maneira que dá para perceber que não têm fome...
No entanto aproximo-me de tal forma daquele casal de velhotes que está sentado há que tempos à beira do lago e ela diz:
- Vamos embora, não vês que estás a ficar constipado!
Ele responde:
- Só saio daqui com a gripe delas!
E não se move.
Bom, e no meio disto tudo não é que dou a deixa mal!
Bolas, saiu-me tudo ao lado!
Concentração, precisa-se!