junho 28, 2006

Jardim à Beira-Mar Plantado

Para quem não conhece a expressão, cá está ela, contextualizada:

A PORTUGAL

Meu Portugal, meu berço de inocente,
lisa estrada por onde andei, débil infante,
variado jardim do adolescente,
meu laranjal em flor sempre odorante,
minha tarde de amor, meu dia ardente,
minha noute de estrêlas rutilante,
meu vergado pomar de um rico outono,
sê meu berço final no último sono!

Costumei-me a saber os teus segredos
desde que soube amar; e amei-os tanto!...
Sonhava as noutes de teus dias ledos,
afogado, de enlêvo, em riso e em pranto.
Quis dar-te hinos de amor; débeis os dedos
não sabiam soltar da lira o canto,
mas ... amar-te o esplendor de imenso brilho
- eu tinha coração e era teu filho!...

JARDIM DA EUROPA À BEIRA-MAR PLANTADO
e louros e de acácias olorosas,
de fontes e de arroios serpeado,
rasgado por torrentes alterosas,
onde num cêrro erguido e requeimado
se casam em festões jasmins e rosas;
balsa virente de eternal magia,
onde as aves gorgeiam noute e dia!

O que te desdenhar, mente sem brio
ou nunca viu teus prados e teus montes
ou nunca, ao pôr do sol de ameno estio,
viu franjas de ouro e rosa os horizontes,
ondas de azul e prata em ada rio,
as perlas e os rubis de tuas fontes,
nem de teus anjos - térreo paraíso -
sentiu o magnetismo num sorriso.

Pátria! Filha do sol e das primaveras,
rica dona de messes e pomares,
recorda ao mundo ingrato as priscas eras
em que tu lhe ensinaste a erguer altares.
Mostra-lhe os esqueletos das galeras
que foram descobrir mundos e mares ...
Se alguém desprezar teu manto pobre,
ri-te do fátuo que se julga nobre!

Tomás Ribeiro, D. Jaime, Porto, Ed. da Livraria Moré, 1874, pág. 3

junho 16, 2006

BLACKOUT

Mal acordo vejo luzes, ela é a do despertador digital, ela é a que entra pelos estores. Vou à casa de banho e acendo a luz, chamo o elevador, pisca a luz.

Saio à rua, meu Deus, tanta luminosidade. Vejo o autocarro a dar sinal de luzes, o semáforo está verde. Carrego no botão e a palavra Parar começa a piscar.

Abre-se uma porta de vidro e uma estranha luz cintila. No estúdio não há luz, nem telefones, nem Net, não há nada. Acendo um fósforo, tenho luz na ponta do cigarro. Os computadores já funcionam, já há luz.

Alguém faz anos. Apagam a luz. A vela é a das modernas, serpenteia luz. Tiram-se fotos. Com flash, claro! Alguém diz que está a dar o jogo, liga-se a televisão. Centenas de flashes fotografam os golos.

Toca o despertador no telemóvel, há uma luz que me diz que tenho de estar em casa às quatro, para dar a contagem da luz... e Zás!
Fecho os olhos.

Fecho os olhos.

Fecho os olhos.

Sim.

Sim, confirmo.

Tenho luz própria.

junho 09, 2006

MAIS UMA INFORMAÇÃO DE RASGO

A criatividade (não é assim caro amigo V.) atinge a almejada genialidade em momentos bem dramáticos. Neste caso o palavrão é de rara elegância.


Não muito longe de minha casa há um stand de automóveis que durante algum tempo teve em exposição, cá fora, ao sol e à lua, o último modelo de uma marca americana.

Sempre que por ali passava via o novíssimo automóvel brilhante e reluzente. Ontem foi completamente diferente, o carro tinha uns riscos a todo o comprimento e uma folha A4 em todos os vidros, com a seguinte informação:



DOU 500 Euros A QUEM DENUNCIAR O GALHUDO QUE FEZ ESTES RISCOS



Toda a gente sabe o que é um galhudo!

junho 05, 2006

A LIBERDADE É

ÀS VEZES OUVIMOS UNS ZUNSZUNS!
DIZ QUEM ÉS! VIVES DEBAIXO DE UMA MÁSCARA!


A vida real exige verdade a blogosfera não!
Invento, aldrabo, recrio, sou rigoroso, faço o que me dá na real gana.

Aliás este blogue não inventa, nem aldraba, nem recria, nem é rigoroso, nem faz o que lhe dá na real gana.

ESTE BLOGUE É!

junho 04, 2006

MATERNIDADES

A minha ideia é simples: ocupem-se as maternidades.

Através da pintura, escultura, cinema, teatro reinvente-se um novo país.

Fecunde-se, e que nasça algo melhor daquilo que somos e daquilo que fizemos.


Se ser artista é criar um mundo paralelo que ao fim e ao cabo não serve para nada...
as maternidades são o espaço ideal para a procriação - dita - artística (e digo procriação porque ainda tenho assento na bancada do CDS).

Pode haver "obra" (a obra é o filho do artista) a ir directamente da sala de partos para
o CCB sem passar pela encubadora, sem passar pela Ministra e parando obrigatoriamente na portagem a que se deu o nome de: Comendador Berardo.


Portugal deixou de ser maternidade para artistas, mas isto... já lá vão uns anitos!

junho 01, 2006

equívocos de Era

Hoje:

Peguei no gel de banho pensando que era o champô.

Ao pagar o café entreguei uma moeda de vinte, pensava que era de um euro.

Vi cão preto e grande correr atrás da sombra de uma gaivota.

Disse bom dia querendo dizer boa tarde.

Trinquei um rissol de camarão pensava que era de carne.

Imaginei um projecto artístico maravilhoso, mas sei não ter possibilidade de o concretizar.

Liguei para uma pessoa da minha lista telefonica pensando que era outra.

Deito-me a pensar que tenho um tipo de vida sonhando que era outra.
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